O empresário Elon Musk e o presidente dos EUA, Donald Trump, durante coletiva de imprensa no Salão Oval da Casa Branca na última sexta-feira (30) (Foto: FRANCIS CHUNG/EFE/EPA)
A direita dos Estados Unidos viveu um dia de pesadelo nesta quinta-feira (5), com duas das suas figuras mais queridas, o presidente Donald Trump e o empresário Elon Musk, protagonizando uma intensa troca de farpas.
Tudo começou quando, durante um encontro na Casa Branca com o chanceler alemão, Friedrich Merz, Trump se disse “decepcionado” porque o empresário havia voltado a criticar na terça-feira (3) um pacote de isenções fiscais e cortes de gastos defendido pelo mandatário republicano que tramita no Congresso dos Estados Unidos.
A troca de acusações escalou quando Musk começou a rebater o comentário de Trump no X, rede social da qual o empresário americano de origem sul-africana é dono. O presidente então foi para sua própria rede, a Truth Social, e sugeriu cortar subsídios e romper contratos das empresas de Musk com o governo.
O empresário respondeu, acusando Trump de estar nos “Epstein Files” – ou seja, seria citado nas investigações sobre o financista Jeffrey Epstein, que morreu na prisão em 2019, enquanto aguardava julgamento por tráfico sexual.
Aliados até a semana passada, quando Musk deixou a liderança do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) porque seu prazo como funcionário especial do governo americano expirou, o empresário e Trump têm muito a perder com o rompimento.
O pacote fiscal apoiado pelo presidente e criticado por Musk prevê o fim de um crédito fiscal de US$ 7,5 mil para compradores de veículos elétricos, o que atingiria diretamente a Tesla, montadora do empresário.
No bate-boca com Trump, Musk tentou minimizar a questão. “Tanto faz. Mantenham os cortes de incentivos para veículos elétricos/solares no projeto de lei, mesmo que nenhum subsídio para petróleo e gás seja cortado (muito injusto!!), mas descartem a montanha de politicagem nojenta do projeto de lei”, escreveu no X.
Apesar desse discurso, as ações da Tesla fecharam em queda de 14,3% nesta quinta-feira e perderam cerca de US$ 150 bilhões em valor, devido à briga Musk x Trump.
Uma reportagem publicada em fevereiro pelo jornal The Washington Post apontou que as empresas de Musk já receberam pelo menos US$ 38 bilhões de dinheiro federal e dos estados americanos em contratos governamentais, empréstimos, subsídios e créditos fiscais.
De acordo com a Reuters, a empresa espacial SpaceX tem US$ 22 bilhões em contratos com o governo federal. Cerca de US$ 4,9 bilhões são relativos à nave Crew Dragon, que Musk disse nesta quinta-feira que começará a “desativar” devido à ameaça de Trump de cancelar contratos de suas empresas.
Segundo o Índice de Bilionários Bloomberg, Musk perdeu US$ 34 bilhões do seu patrimônio líquido pessoal nesta quinta-feira. Agora, sua fortuna pessoal está em US$ 334 bilhões.
Para Trump e seu partido, a briga pode secar uma fonte de importantes doações eleitorais: homem mais rico do mundo, Musk doou no ano passado mais de US$ 290 milhões para as campanhas do magnata nova-iorquino para a presidência e de outros políticos republicanos para o Congresso dos Estados Unidos.
Entretanto, o rompimento gera outra preocupação ainda maior: com 220 milhões de seguidores no X, Musk hoje é uma das vozes políticas americanas mais importantes nas redes sociais. Após romper com os democratas, ele passou a apoiar os republicanos e seus posts ferinos contribuíram para a derrota de Kamala Harris para Trump em 2024.
O próprio presidente deixou escapar que temia o impacto de Musk se virar contra ele, ao dizer nesta quinta-feira na Casa Branca que provavelmente “a próxima coisa a acontecer” seria o empresário iniciar ataques pessoais contra ele no X. Em seguida, veio a saraivada de posts de Musk. Caso a briga se mantenha, a dúvida que fica é: qual dos dois lados vai perder mais?